29 setembro 2008

Congresso Europeu - Lisboa 2008

Caros Colegas

Alguns de nós estiveram no Congresso Europeu de Medicina Intensiva, realizado em Lisboa, na semana passada. Farei algumas observações sobre o que assisti. Não vi realmente muita coisa nova, já que muitas evidências que pareciam eficientes até alguns anos atrás, não vingaram em estudos clínicos recentes.

Comento logo o que foi mais polêmico: a discussão sobre recrutamento alveolar entre Marcelo Amato e Luciano Gattinoni. Foram organizadas reuniões sobre controvérsias, tipo pró e contra. Até que os palestrantes não vinham discordando tanto, até porque, como já disse, não existem muitas verdades absolutas ou paixões arrebatadoras no campo da Medicina Intensiva. Mas no último dia, a sala que abrigou as palestras sobre controvérsias ficou pequena para tanta gente querendo ver a discussão sobre recrutamento alveolar.

Realmente o tema ainda é controverso, principalmente porque estudos menores são positivos para o recrutamento e o grande estudo ARDSNetwork foi negativo (está comentado no último volume da série Artigos Comentados). Mas há alguns estudiosos que defendem que recrutamento deve ser realizado com pressões maiores que estudos do ARDSNet (que ficam em torno de 40 cmH20).

Amato fez a primeira abordagem e foi bem claro: resultados positivos em relação a recrutamento e pressões de vias aéreas mais elevadas demonstraram melhora na sobrevida além do controle da pressão de platô e controle do volume corrente. Uma "driving pressure" até 16 cmH20 (Pplatô - PEEP) pode teoricamente melhorar a mortalidade além da ventilação protetora tradicional de trabalhos passados. E recrutamento deve ser realizado com escalonamento de pressão, acima de 40 cmH20, para apresentar benefício naqueles que não mostram resposta no CPAP de 40 cmH20.

Gattinoni veio depois e sua abordagem fugiu da tradicional polêmica amigável para desferir ataque pessoal ao Amato. Chegou a ser descortês em alguns momentos, dizendo que apenas no Brasil pacientes apresentam colapso alveolar maior que 90% dos pulmões; e que no Brasil faz-se 2 litros de colóides antes das manobras de recrutamento, e por isso PEEP elevada tem mais benefício que no resto do mundo. Mas seus argumentos não são de todo exagerados e ele tomou como base evidências negativas, como o próprio estudo do ARDSNet e aspectos como hiperinsuflação com pressões elevadas e a trabalheira que recrutar periodicamente realmente dá.

No final das 2 palestras, quando todos esperavam alguma discussão e perguntas da platéia, Laurent Papazien (França) encerrou subitamente a sessão (e ainda faltava 10 minutos para a próxima mesa redonda...). Bem, ficou aquele mal-estar no ar e eu realmente achei que o Gattinoni resolveu sair da mesmice e saiu pro ataque, meio como ator, para atiçar e dar aquele rebuliço na platéia. Mas alguns brasileiros não gostaram mesmo.

Todos esperamos por estudos comprobatórios, principalmente pelo esforço da equipe de São Paulo, que está realizando novo estudo sobre o tema.

André

1 comentário:

  1. eu queria os nomes dois profissionais nrasileiros que tiveram ai

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