14 janeiro 2010

Tratando a dor pode-se reduzir estresse pós-traumático

Holbrook TL, Galarneau MR, Dye JL, Quinn K, Dougherty AL. Morphine Use after Combat Injury in Iraq and Post-Traumatic Stress Disorder. NEJM 2010; 362:110-117.

A desordem de estresse pós-traumático (PTSD) é reconhecida como um transtorno psiquiátrico associado a condições como desastre, doença aguda e neoplasias. Caracteriza-se por ansiedade, síndrome do pânico, medo de morrer, insegurança e labilidade emocional.

Este estudo interessante da Marinha Americana mostra que o uso precoce de morfina em 696 feridos na guerra do Iraque reduz a incidência de PTSD. Pesquisou-se outros fatores potencialmente associados com PTSD, como tipo de ferimento, uso de benzodiazepínicos (que aumentam a chance de PTSD em doentes graves) e idade/sexo.

Neste estudo caso-controle, o uso de morfina está associada a quase metade da incidência de PTSD (odds 0,47). Os autores ajustaram a análise pela gravidade de injúria (Injury Severity Score - ISS), idade, mecanismo de injúria e amputação de membros. Mesmo assim, os fatores independentemente associados foram o uso de morfina, o mecanismo de lesão e o escore ISS. Trauma craniano, idade e amputação não se associaram a PTSD.

O que podemos tirar de lição deste artigo é que talvez o uso regular e precoce de analgesia associada à sedação em nossos pacientes na UTI podem se beneficiar em termos psicológicos. Outros benefícios do uso de opióides são a redução da dose de benzodiazepínicos, possibilidade de melhor acoplamento a ventilação mecânica e melhora da qualidade de assistência. O desenvolvimento de dependência é menos comum do que se acredita, sendo menos frequente que a dependência a benzodiazepínicos, por exemplo.

André

3 comentários:

  1. Caro André
    Bom dia! É um prazer revê-lo, neste blog que já venho acompanhando há algum tempo. E resolvi só hoje parabenizá-lo pela iniciativa de um blog levinho e interessante poara a turma que milita na área.
    Abs

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  2. Caro André,

    Realmente a dor ainda é muito negligenciada em nosso meio, ainda existe aquele cirurgião que briga porque tiramos a dor do paciente e com isso ele perdeu o parâmetro de avaliação (mas ele se esquece que levou 4 horas para vir avaliar o paciente no PS).
    Graças aos avanços alcançados em sedação hoje em dia (diferente dos 5 anos atrás quando conheci a terapia intensiva) os nossos CTIs estão sendo povoados por pacientes despertáveis e não mais no tão "confortante" Ramsay 6 por 10-15 dias seguido de TCC e EEG para saber porque o paciente não acorda depois de 10-15 dias de midazolam e fentanil!

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  3. Agradeço muito o elogio e nós nos esforçamos para atualizar o blog e tentar expandir conhecimentos na área, de modo aberto, para quem tiver interesse.

    Abraços

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