09 janeiro 2013

Debate sobre via aérea na UTI: do intensivista ou do anestesista ?

"Point: Should an Anesthesiologist Be the Specialist of Choice in Managing the Difficult Airway in the ICU? Yes". Walz JM. Chest 2012; 142(6):1372-4.
"Counterpoint: Should an Anesthesiologist Be the Specialist of Choice in Managing the Difficult Airway in the ICU? Not Necessarily". Doerschug KC. Chest 2012; 142(6):1375-7.

Eu gosto de um debate. Debate de candidatos a presidente, governador, prefeito, médicos, intensivistas, anestesiologistas, etc. A revista Chest publica eventualmente artigos sobre temas controversos, preferencialmente que não têm uma resposta definitiva. Este é mais um debate, sobre via aérea no paciente grave: é melhor chamar o anestesiologista ou o intensivista é equivalente ?

Não há resposta comprovada. Os autores - Walz, anestesista e Doerschug, pneumologista e intensivista - colocam suas opiniões, e adianto que o 2o se deu melhor, com argumentos mais convincentes.

Pontos pró-anestesiologista (Walz):
1. maior prática da técnica
2. quem intuba deve ter maior experiência, já que a incidência de complicações relacionadas a ITO no paciente grave é maior
3. os estudos com mais anestesiologistas intubando ou supervisionando a IOT (Simpson e Martin) apresentaram menor frequência de intubação esofagiana e menor número de intubações difíceis
4. os novos instrumentos para facilitar a IOT melhoraram a visualização da glote, mas não mudaram a taxa de sucesso de intubação

Pontos contra (Doerschug):
1. artigos que reportam complicações com IOT têm taxas semelhantes independentemente do número de anestesistas nas equipes
2. a supervisão da IOT por intensivistas ou anestesiologistas experientes reduz a taxa de complicações
3. o intensivista parece prever melhor complicações fisiológicas além daquelas de vias aéreas, que o anestesiologista (ex. hipotensão)
4. o preparo / checklist para IOT realizados de maneira sistemática reduz a taxa de complicações (Jaber 2010 e Mayo 2011)

Como foi mencionado no 2o artigo, a questão não é "quem tem as melhores mãos", mas "quantas mãos são apropriadas" para proceder IOT dentro das UTIs.

Minha opinião: aprendi IOT com intensivistas, sempre em pacientes com insuficiência respiratória aguda (obrigado a Edna e Analucia); mas a minha prática melhorou muito quando pratiquei melhor técnica com um colega de plantão anestesiologista (valeu Lobo !). O treinamento do intensivista com anestesiologistas (seja no centro cirúrgico ou na UTI) deve fazer parte do currículo de melhor formação da nossa especialidade.

André Japiassú

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