03 janeiro 2014

Os intensivistas são necessários à noite ?

Night-time intensivists - waste of resources or failure of process optimization? Takala J e Levy M. Crit Care 2013; 17:472.
A randomized trial of nighttime physician staffing in an intensive care unit. Kerlin MP, Small DS, Cooney E, Fuchs BD, Bellini LM, Mikkelsen ME, Schweickert WD, Bakhru RN, Gabler NB, Harhay MO, Hansen-Flaschen J, Halpern SD. N Engl J Med 2013, 368:2201–2209.

Saiu na NEJM um estudo no meio do ano, no qual não houve benefício de haver intensivistas de plantão à noite em UTIs. Este dado provoca uma dúvida, já que vários outros estudos apontam para o benefício de se ter intensivistas verdadeiros nas UTIs. Lembro que não estou falando de nenhum absurdo, já que cerca de 50% das UTIs americanas e brasileiras não têm ao menos 1 intensivista titulado no seu quadro de profissionais (dados da SCCM e AMIB).

Agora, o que se discute é se a presença de intensivista à noite pode influenciar o prognóstico dos pacientes. Neste caso, falamos de UTIs que têm bom número de intensivistas, para que se coloque especialistas à noite também. O problema que motiva a carta de Jukka Takala, proeminente intensivista europeu, é que aquele ditado "todos os gatos são pardos à noite" parece ser verdadeiro para muitos hospitais. Se não se decide nada à noite, há somente continuação das decisões diurnas, não vale a pena mesmo ter especialistas. Os hospitais acabam nivelando o nível "por baixo".

Talvez o problema seja não aproveitar o especialista no período noturno. Em hospitais, por exemplo, que trabalham com sistema de "altas rápidas", ou seja, aceleração de altas para internar novos pacientes (hospitais de movimento cirúrgico ou cardiológico, por exemplo), têm benefício de funcionar mais ativamente à noite. Talvez o erro não seja do intensivista individualmente, mas sim da morosidade de processos no período noturno.

Deixa eu dar outro exemplo prático: coloquemos que o diretor de um hospital promove um anestesista no plantão noturno para entrar em alguma cirurgia de urgência. Mas o centro cirúrgico evita cirurgias à noite por conta da falta de pessoal de enfermagem. Será que haverá benefício de manter o anestesista de plantão, ou ele pode ficar de sobreaviso em casa para alguma catástrofe ?

Vale a pena a leitura dos 2 artigos para formar opinião. Baixe a carta no link: http://ccforum.com/content/pdf/cc13170.pdf

André Japiassú

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