13 maio 2008

tópicos sobre o XIII CBMI - 1

Caros colegas
Passo a relatar algumas observações sobre o último congresso de Medicina Intensiva ocorrido em Salvador na última semana.
Um dos pontos altos do encontro foi a palestra sobre paciente terminal e conflitos de decisões sobre retirada e/ou recusa de tratamento em pacientes fora de possibilidades terapêuticas, com Mitchell Levy (EEUU).
Primeiramente, muitos dos conflitos que surgem por causa da falta de comunicação entre profissionais e pacientes/familiares. Quanto maior a proximidade da equipe do CTI com a família, menor a quantidade de conflitos. Levy demonstrou inúmeros estudos sobre o tema, e um deles chamou a atenção: o médico peca por falar demais. Em entrevistas com a sfamílias gravadas por um observador, o médico fala mais de 70% do tempo. O paciente e familiares têm apenas 20-30% do tempo para expressar seus pensamentos e dúvidas. O americano falou que em nenhum relacionamento de casais, por exemplo, isto pode ser igual; daria confusão e separação na certa.
Outro fato: conversas entre familiares e equipe médica geralmente excluem outros profissionais, como enfermeiros e psicólogos. Se não há participação destes, uma informação pode ser tomada e ao chegar no interior do box do paciente no CTI, alguém pode falar justamente o contrário, o que certamente causa ansiedade na família. Temos que acertar os ponteiros em relação à equipe multiprofissional e pacientes e famílias. Levy disse que nunca deixa de chamar a enfermagem para conversas mais importantes com pacientes e familiares.
Finalmente, ele deu dicas para as conversas com pacientes e familiares, principalmente para decisões de fim-de-vida. Aí vão algumas:
- participação de vários profissionais da equipe do CTI;
- bom conhecimento da história e complicações do caso;
- ambiente siliencioso e reservado;
- suporte psicológico para pacientes, familiares e equipe do CTI (a desordem de estresse pós-traumático ocorre em todos estes grupos, e é subestimado principalmente na equipe de saúde);
- reservar tempo para a conversa: deixe paciente/família falarem com tranquilidade sobre percepções, preocupações e dúvidas;
- explicar em termos laicos sobre o caso e perguntar mais de 1 vez se existem dúvidas; é frequente que as pessoas atordoadas ouçam mas não compreendam o que foi dito.
A pergunta do Juan Verdeal (Rio de Janeiro) foi sobre a falência da relação entre equipe e família: o que fazer quando a crise é intensa e você sente que não existe mais nenhuma cumplicidade. Levy reiterou que 90% dos problemas são contornados com atenção e diálogo. No entanto, se ele sente esta falência total, procura resolver o paciente (gastrostomia, traqueostomia, desmame ventilatório, etc) e transfere o paciente para unidades de menor complexidade e talvez outro CTI.
Eu perguntei sobre um time de detecção precoce de conflitos: ele disse que psicólogos conseguem procurar ativamente estes problemas e podem participá-los rapidamente à equipe do CTI e equacioná-los. Mais uma vez, a prevenção parece ser bem mais eficaz.

André Japiassú

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