Seymour CW, Iwashyna TJ, Cooke CR, Hough CL, Martin GS. "Marital Status and the Epidemiology and Outcomes of Sepsis". Chest 2010; 137:1289-1296.
É crescente a quantidade de estudos sobre fisiopatologia da sepse, principalmente associando fatores genéticos (como polimorfismos de genes de citocinas) a maior risco de desenvolvimento e/ou mortalidade de sepse. No entanto, fatores sociais também podem influenciar a ocorrência de sepse, como demonstrado por exemplo em artigos de epidemiologia da sepse nos Estados Unidos, nos quais a etnia negra tem maior risco de mortalidade (Angus D et al, 2001). O artigo publicado por Seymour et al estuda um aspecto interessante no risco de sepse, que é o estado civil da pessoa. Não é de hoje que existem evidências que a pessoa casada tem menor risco de mortalidade que solteiras ou divorciadas (Gove WR. Sex, marital status, and mortality. AJS 1973; Dupre ME, Beck AN, Meadows SO. Marital trajectories and mortality among US adults. Am J Epidemiol 2009). É notável também que quando um(a) companheiro(a) morre, o esposo(a), principalmente se idoso(a), também padece em pouco tempo (Zivin K, Christakis NA. The emotional toll of spousal morbidity and mortality. Am J Geriatr Psychiatry 2007). Sendo assim, os autores se perguntaram se o estado civil também pode influenciar a ocorrência e a hospitalização por sepse.
E os resultados são interessantes e instigam o raciocínio do comportamento social influenciando o aparecimento de doenças. Os autores investigaram o estado civil e o diagnóstico de sepse no banco de dados de hospitalizações em New Jersey em 2006. A relação entre estado civil e sepse foi analisada com atenção a potenciais fatores de confusão, como moradia urbana versus rural, fatores socioeconômicos, comorbidades, reinternações, sítios da sepse, microorganismos e disfunções orgânicas. De mais de 800 mil hospitalizações, 37524 (4,2%) foram por sepse. O estado civil foi categorizado da seguinte maneira:
40% casados
26% solteiros
26% viúvos
7% divorciados
2% legalmente separados
No momento da alta hospitalar, os sobreviventes de sepse divorciados ou viúvos tinham maior chance de ir para casa de apoio ("nursing facility"). Indivíduos solteiros apresentaram maior risco de hospitalização por sepse que os casados. Este cálculo foi feito com base na população de mais de 6 milhões de pessoas em New Jersey. A figura abaixo mostra que as pessoas solteiras (linha preta contínua) têm maior incidência de sepse, em qualquer idade a partir da idade adulta (> 30 anos). O risco é 3,5 vezes maior para solteiros que casados, enquanto é cerca de 1,4 vezes para divorciados e viúvos. Quando se analisa as diferenças entre homens e mulheres, todos solteiros e os homens divorciados apresentam também maior mortalidade hospitalar por sepse, mesmo após ajuste por fatores sociodemográficos e comorbidades.
Possíveis explicações para estes resultados são mera especulação: estilo de vida desregrado, menor poder econômico, estresse psicológico, ausência de cuidados por um(a) companheiro(a), etc. E com a vida moderna, onde o isolamento social e o crescimento da vida "virtual" pela internet são mais prevalentes, o estado civil (principalmente a relação interconjugal) pode influenciar a incidência de sepse.
André Japiassú
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