08 fevereiro 2012

Etomidato: to be or not to be ?

"The effect of etomidate on adrenal function in critical illness: a systematic review". Albert SG, Ariyan S, Rather A. Intensive Care Med 2011;37:901-10.

Em meados de 1981 foi lançado o etomidato para sedação em pacientes graves. Esta droga vinha com a vantagem de não causar instabilidade hemodinâmica, o que é interessante para doentes graves com choque ou potencial para hipotensão. Mas em 1984 uma série de publicações apontaram o desenvolvimento de insuficiência adrenal como efeito colateral, tanto com infusão em bolus quanto contínua. Watt e Ledingham (Anaesthesia, 1984) mostraram que a mortalidade na UTI deles era de cerca de 20 a 30% antes e 47% após a introdução do etomidato na rotina de sedação de pacientes graves. A mortalidade caiu de novo para 25% após a suspensão de etomidato do protocolo de tratamento da UTI.

Não houve continuidade no estudo da causa certa de aumento de mortalidade de pacientes graves que usam etomidato, embora tenha se demonstrado a inibição de esteroidogênese (Wagner et al, N Engl J Med 1984).

Em 2005, Jackson publicou um artigo de opinião na Intensive Care Medicine, sugerindo que a droga fosse abandonada na UTI. Doentes sépticos, que podem desenvolver disfunção adrenal, seriam os mais afetados pelo uso de etomidato. Mas ele também deixou dúvida, porque não existia um estudo clínico de fase 3 ou 4 que pudesse afirmar ou rejeitar a hipótese.

Mesmo sem termos grandes estudos, Albert e colaboradores realizaram uma revisão sistemática para avaliar a incidência de insuficiência adrenal e a mortalidade em pacientes graves na UTI. Entre 263 estudos com os termos etomidato, insuficiência adrenal, glicocorticoides e cuidados intensivos, foram selecionados 19 estudos: 7 estudos clínicos randomizados controlados, 8 estudos retrospectivos e 4 estudos observacionais. O total de pacientes foi: 1321 com etomidato e 2195 sem etomidato (placebo ou outro sedativo). Todos os estudos foram publicados entre 1999 e 2009.

Pacientes que usaram etomidato desenvolveram mais insuficiência adrenal que controles (62% versus 44%, odds 1,64 [IC 95% = 1,52-1,77]). O etomidato também se associou com maior mortalidade: 43% versus 34%, odds 1,19 [IC 95% = 1,09-1,30]).

Até que se mostre o contrário, não se deve usar etomidato em pacientes graves, tanto pelo seu efeito na síntese de glicocorticoides, quanto pelo aumento de mortalidade.

André Japiassú

2 comentários:

  1. raimundo nonato filhosábado, fevereiro 18, 2012

    Esses estudos são para a utilização de Etomidato em infusão contínua somente?

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  2. Olá Raimundo !
    Não, os estudos incluem etomidato em bolus também. Um editorial de 2005 (Intensive Care Med) sugere que o etomidato não deve ser usado em pacientes em risco ou com sepse, já que eles apresentam maior risco de disfunção adrenal.
    Um abraço

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