27 novembro 2012

Sedação: o que interessa é o paciente mais superficial

"Daily Sedation Interruption in Mechanically Ventilated Critically Ill Patients Cared for With a Sedation Protocol". Mehta S, Burry L, Cook D, Fergusson D, Steinberg M, Granton J, et al. JAMA 2012;308:1985-1992.

Como se sabe bem, a estratégia de interrupção de sedativos (publicada por Kress et al, NEJM 2000) reduz o tempo de ventilação mecânica e no CTI e reduz mortalidade. Esta estratégia foi repetida em outros estudos (Girard 2008, Strom 2010) com igual sucesso. De todos aqueles artigos sobre Medicina Intensiva publicados entre 1999 e 2001, a interrupção de sedativos, juntamente com a restrição de transfusão de hemácias, permanece até hoje como uma medida efetiva e que mudou nosso jeito de proceder na UTI.

No entanto, fica a dúvida se esta estratégia é segura em todos os lugares. Explico: no estudo de Kress, a relação enfermeiro:leito era 1:1; sabemos que não é a realidade em todos os lugares. O perigo de extubação acidental é obviamente maior quando a monitoração é menor.

Este estudo do grupo canadense de Debora Cook introduz uma nova informação: o que interessa na estratégia com sedação é deixar o paciente mais superficial, independentemente de interromper a infusão de fármacos ou não.

Realizou-se estudo randomizado e controlado com 423 pacientes, no qual todos os pacientes eram mantidos com sedação com midazolam ou lorazepam associados com morfina ou fentanil. Todos os pacientes foram submetidos a protocolo de manipulação de dose de sedação para manter nível de RASS (escala) entre 0 e -3. A diferença entre os 2 grupos foi a aplicação de interrupção diária de sedativos ou não.

O objetivo primário do estudo foi igual entre os 2 grupos: o tempo até extubação foi 7 dias. Não houve também diferença no tempo de permanência na UTI, acúmulo de disfunções orgânicas, número de tomografias de crânio, porcentagem de restrição física, reintubação e mortalidade.

O detalhe que me impressionou foi que 77% dos pacientes foram contidos no leito. Outro ponto foi a excelente aderência ao protocolo (85%).

Concluindo, a partir deste estudo fica claro que manter o paciente mais acordado é o que interessa, seja com interrupção de sedativos ou com protocolo de sedação/analgesia.

André Japiassú

2 comentários:

  1. Oi André,
    Parabéns a todos vocês pelo ótimo site.
    Ainda não consegui ler o artigo e por isso gostaria de fazer uma pergunta. Os autores comentam se foi necessário interromper a estratégia com os opióides antes do início dos testes de ventilação espontânea? no caso desta necessidade, quanto tempo antes a interrupção foi feita?
    Abraços saudosos a todos
    Tiago Xavier

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  2. A infusão de opioides foi feita conjuntamente com o benzodiazepínico. Não sei exatamente quanto tempo antes. Mas isto é diferente do artigo original do Kress (New England J Med 2000), no qual as infusões dos sedativos (propofol e midazolam) eram suspensas diariamente mas não de opioides.

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