09 outubro 2019

Farmacêuticos: além de bem-vindos, necessários na UTI !

Farmacêuticos: além de bem-vindos, necessários na UTI !
  • Impact of Quality Bundle Enforcement by a Critical Care Pharmacist on Patient Outcome and Costs - Leguelinel-Blache et al, CCM 2018; 46:199.
  • Impact on Patient Outcomes of Pharmacist Participation in Multidisciplinary Critical Care Teams: A Systematic Review and Meta-Analysis - Heeyoung Lee et al, CCM 2019;47:1243.
  • Improving care for critically ill patients with community-acquired pneumonia - Monica Bianchini et al, 2019;76:861.

A participação do farmacêutico no time multidisciplinar da UTI já é realidade em alguns hospitais, mas enfrentam dificuldade por falta de recursos humanos (faltam profissionais) ou financeiros (sem orçamento para contratar). O farmacêutico pode ajudar muito em reduzir eventos adversos relacionados a medicações (cerca de 45 mil mortes nos hospitais por ano), e garante a segurança pro paciente internado.

Separei 3 artigos recentes para comentar:

1. Legueline-Blache e colaboradores (2018) realizaram estudo antes/depois sobre mortalidade, tempo de permanência e custos da ação do farmacêutico em 2 UTIs francesas. O número de pacientes foi expressivo - 1.164. A intervenção foi baseada em aconselhamento amplo relacionado a medicações: doses e tempo de sedativos, antibióticos, itens do pacote de prevenção de pneumonia associada a VM e manutenção de cateteres venosos e vesicais. Houve redução significativa do tempo de hospitalização (menos 3,7 dias), menos tempo de ventilação e de UTI e redução de custos agregados (menos 2.500 dólares por internação). Não houve diferença de mortalidade durante períodos antes e depois.

2. Lee e colaboradores fizeram revisão sistemática que visou verificar efeitos da atuação do farmacêutico em desfechos relevantes na UTI, como eventos adversos, tempo de permanência e mortalidade. A análise final foi com 14 estudos. Todos foram estudos observacionais, exceto Claus et al (2014). A mortalidade observada foi cerca de 20% menor no grupo de UTIs com farmacêutico atuante (odds 0.78), com pouca heterogeneidade entre os estudos. De maneira surpreendente, o tempo de permanência na UTI também foi reduzida em 1,1 dia, principalmente em UTIs mistas (o efeito foi menor em UTIs clínicas "puras"). E eventos adversos, tanto preveníveis quanto não-preveníveis, também foram muito reduzidos (odds 0.26 e 0.47, respectivamente). Este último resultado é o mais deduzível, até pela atuação na revisão de prescrições e possíveis interações medicamentosas, além de análise de doses e posologia. Por incrível que pareça, não houve heterogeneidade significativa entre os estudos para estes desfechos, exceto tempo de UTI. Isto aponta para maior confiança nos resultados da revisão.



3. Bianchini e colaboradores estudaram o efeito do acompanhamento do farmacêutico clínico um 1 UTI clínica, analisando pacientes internados por pneumonia comunitária grave. Foi um estudo antes/depois, comparando 5 meses do inverno de 2016 versus o mesmo período de 2017. O farmacêutico tinha um pacote de avaliações que consistiam em:
- acesso a resultados de exames microbiológicos comuns;
- teste para influenza (PCR);
- painel viral respiratório;
- antígeno urinário para Legionella pneumophila;
- procalcitonina (PCT) sérica.
O objetivo principal foi analisar o tempo de antibioticoterapia; secundariamente descalonamento, tempo de hospitalização, re-tratamento da pneumonia, reinternação na UTI, disfunção renal aguda; e infecção por Clostridioides sp.
Numa população inicial de 387 pacientes, separou-se 91 pares para comparação de desfechos. Muitos pacientes (50%-60%) recebeu empiricamente glicopeptídeos e agentes anti-Pseudomonas (como cefepime e pip-tazo), o que não é comum por aqui no Brasil. O tempo de tratamento foi semelhante (~7 dias). O descalonamento foi muito mais comum com ação do farmacêutico. O restante de desfechos não foi diferente: mortalidade hospitalar (14% vs 8%), reinternação 30 dias (18% vs 14%) e re-tratamento (15% vs 12%). Por fim, a identificação de causa etiológica da pneumonia foi maior no grupo após intervenção (51% vs 34%, p=0.03).

André Japiassú

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