JL Vincent. EPIC II: sepsis around the World. Minerva Anestesiol 2008; 74:293-296.
Recentemente o Dr JL Vincent proferiu conferência sobre a Sepse ao redor do mundo, no congresso ISICEM para América Latina, em 24 de junho passado.
O primeiro estudo foi realizado na Europa e publicado em 1995 (JAMA - EPIC I). Este estudo contava com mais de 10 mil pacientes, e demonstrava grande variação internacional em relação à bacteriologia, gravidade e mortalidade dos pacientes. A mortalidade dependia muito se a infecção era adquirida na UTI, o que aumentou muito o número de óbitos em países como Grécia e Portugal.
O estudo SOAP (2006), conduzido pelo mesmo autor, demonstrou que na Europa havia correlação entre incidência de sepse e mortalidade. A frequencia de germes era igual entre bactérias Gram positivas e negativas, enquanto cresceu a presença de infecções fúngicas (em torno de 6%).
O pesquisador ampliou a casuística para infecções em todo o mundo. Foram 76 países, 1265 UTIs e 14.414 pacientes, em estudo de corte realizado em 2 de julho de 2007. A América Latina (AL) participou com 16% da população.
No Brasil os dados são alarmantes. As UTIs brasileiras participantes eram acadêmicas (60%) e médico-cirúrgicas (66%) na sua maior parte. Metade precisou de ventilação mecânica.
A mediana de permanência no mundo inteiro foi de 9 dias, com 18% de mortalidade na UTI, e mais 6 % na hospitalização. Mas na AL a mortalidade foi maior (27% na UTI e 33% hospitalar). Pode-se pensar que nossos pacientes são mais graves, mas SAPS II e SOFA do primeiro dia foram semelhantes a outros continentes como América do Norte e países da Europa. Nossos pacientes tinham maior prevalência de pneumonia e peritonites. O isolamento de microorganismos (m.o.) foi menor na AL também (55 versus 69%). Os m.o. mais comuns foram bactérias Gram-negativas (62%). Pseudomonas e Klebisiella sp são comuns, e Acinetobacter vem logo atrás.
É interessante a correlação entre PIB e taxa de infecção dos continentes, principalmente no 3o mundo. E finalmente a Oceania tem mortalidade bem abaixo dos outros continentes (14%).
Existem várias especulações para estes resultados. Primeiramente, temos menos dinheiro e isso parece influenciar os cuidados com pacientes sépticos em todo lugar. Mas estamos piores que países emergentes como Índia e Argentina (estudo PROGRESS, Infection junho 2009). Não há como explicar este fato com escores prognósticos, pois são semelhantes. Talvez o acesso ao sistema de Saúde é que faça diferença em várias partes do Brasil; tempo é tecido/disfunção na sepse. Finalmente, vale a pena conscientizar melhor a população em relação ao que é sepse, assim como vários sabem o que é AVC (derrame cerebral) e IAM, que dependem de atendimento rápido para tratamento com sucesso.
O ILAS (Instituto Latino-Americano de Sepse) vem trabalhando arduamente para saber como estamos, e tentando implementar protocolos em UTIs e emergências no Brasil. Se conseguir consciência da população sobre procurar atendimento rapidamente e o profissional de saúde souber que antibioticoterapia precoce salva vidas, já será um grande passo.
André
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